Há muito espaço para avanço no tema eficiência energética no País


Retorno financeiro é alto, mas o comprometimento ainda é baixo; potencial de melhoria na indústria passa de 50%, segundo a Agência Internacional de Energia

A maioria das empresas tem o exato controle das cópias que são impressas. Sabe quantas páginas cada colaborador imprimiu. Mas um custo muito mais relevante, várias vezes maiorque o de cópias e infinitamente mais pesado para os orçamentos da empresas, principalmente para as indústrias, o da conta de energéticos, é, na maioria dos casos, negligenciado. “A maior parte das empresas ainda não tem essa cultura de gerir os gastos em energia, o que significa, muitas vezes, desperdício de dinheiro, além da questão ambiental, pois o tema mudanças climáticas está na pauta dos líderes mundiais”, disse o diretor executivo da Abrinstal, Alberto J. Fossa, durante o 6º Fórum de Gestão e Economia de Energia, realizado no dia 30 de novembro, na Fiesp.

A situação da baixa atenção com o tema não é uma exclusividade do Brasil. Uma pesquisa feita pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido), em Viena, este ano, para avaliar a realidade de 17 países em desenvolvimento,que têm programas implantados de eficiência energética, com apoio dessa organização, revelou que a maior barreira é a ausência de especialistas em energia nas indústrias, seguido da falta de comprometimento da alta direção das empresas participantes do programa com o tema. “Os ganhos econômicos são muito significativos. Ainda há muito trabalho a ser realizado, a conscientização e o envolvimento ainda é baixo”, disse Fossa.

Segundo uma pesquisa da Agência Internacional de Energia (AIE – International Energy Agency), ainda há, no mundo mais de 50% de potencial de melhoria de eficiência energética na indústria, que é uma das maiores responsáveis pelas emissões no planeta. Cerca de 1/4 dos gases emitidos emitidos na atmosfera vêm das indústrias. Nos prédios, o potencial de avanço de gestão e economia de energia é o maior de todos: cerca de 80% não contam com ações nessa área, segundo o estudo da Agência.

Brasil pode ser âncora de ações na América Latina

Para Graziela Siciliano, do Departamento de Energia dos Estados Unidos, que coordena um grupo sobre eficiência energética, que reúne representantes do governo de 17 países, o Brasil tem grandes oportunidades de avanço nessa área. “Estamos interessados em ampliar o diálogo com o Brasil sobre o tema gestão e economia de energia. O país deverá servir de âncora para ações de eficiência energética em toda a América Latina”, disse Graziela.

Uma das principais ações previstas pela coordenadora do grupo é compartilhar experiências da ISO 50001 que foram bem sucedidas em outros países, para serem aplicadas no Brasil. A ideia é trazer para o país as melhores práticas relativas à gestão e economia de energia.

“Os desafios são grandes para o programa funcionar efetivamente, exige também o apoio do governo local, para incentivar programas nessa linha, que inclua principalmente treinamento para a indústria, que é uma das principais consumidoras de energia”, afirma Graziela.

Retorno financeiro é fundamental para programa avançar

Na avaliação de Paulo de Tarso Cruz, da companhia Vale, o ponto crucial para um programa de normalização de eficiência energética é oferecer condições seguras de retorno financeiro para a empresa. “Para a indústria, o racional econômico é fundamental. A lógica do mercado de busca por resultado é fundamental para o tema avançar no Brasil”, afirma.

A Vale desenvolve várias ações relacionadas à eficiência energética, que abrange as vertentes: técnica e cultural. A parte de equipamentos eficientes é muito importante para a produtividade do negócio, mas também é fundamental conscientizar as pessoas que operam esses equipamentos, tem que se trabalhar na questão dos comportamentos e valores.

Participação nacional e internacional

O presidente da Abrinstal, Sílvio Valdissera, lembrou que o tema vem ganhando cada vez mais importância no mundo e que o Brasil assumiu junto à Organização das Nações Unidas (ONU), o compromisso de economizar 10% de energia até 2030, conforme o Plano Nacional de Eficiência Energética (PNEf). Com a confirmação oficial da meta, o País se compromete, perante o cenário internacional, a trabalhar de forma mais pragmática e direta na busca do atendimento deste objetivo.

“A Abrinstal tem participado ativamente desse tema, tanto nacional como internacionalmente, e vamos continuar avançando nas discussões, envolvendo o maior número de agentes possíveis para que o projeto avance no País. Todos ganham com a eficiência energética”, disse Valdissera.

ISO 50001 é debatida desde 2008

As primeiras discussões formais sobre normatização no mundo sobre o tema eficiência energética começam em 2005. Em 2008 é criado o fórum para elaboração da ISO 50001, que é a norma que visa a implementação de um sistema de gestão para energia, assim como a ISO 9001 e a ISO 14001. A ISO 50001 estabelece diretrizes e requisitos para estabelecimento e implementação de um sistema de gestão de economia de energia. Desde 2008, o Brasil acompanha os trabalhos relativos ao tema. Em 2015 a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, criou o Comitê Brasileiro de Gestão e Economia de Energia, o CB 116, que é gerido pela Abrinstal. Este ano, foi criado o TC301, o comitê técnico de gestã e economia da energia, que tem o objetivo de otimizar trabalhos e focar o desenvolvimento das normas internacionais. Alberto Fossa é o vice-chair do TC301, com a nomeação do brasileiro, o país ganha mais peso nas discussões da normalização e padronização, relativas às questões de gestão e economia de energia.